Por enquanto, alguns coelhos são os únicos pacientes privilegiados com o experimento. Mas novos avanços com humanos, em uma pesquisa pioneira no mundo com células-tronco de dentes de leite para reconstrução de córnea, estão sendo alcançados no Instituto Butantan e na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os animais receberam aplicações das células dentárias na região límbica e recuperaram a visão. O projeto começou há seis anos nos laboratórios do Butantan, ainda de forma tímida.

O limbo ocular é uma espécie de fonte de renovação de tecidos fundamentais para a córnea produzir a visão. “Mas quando a região límbica é afetada por um trauma ou uma doença, a córnea perde a capacidade de regeneração e se torna opaca, comprometendo a visão”, explica autora do projeto, a biomédica Bábyla Geraldes Monteiro, do Butantan.

“Quando o problema afeta apenas um dos olhos, é possível retirar células límbicas do olho saudável do próprio paciente para transplante”, explica o oftalmologista da Unifesp José Álvaro Pereira Gomes, coautor do estudo. “Mas, quando os dois olhos são afetados, a única opção hoje é recorrer a um doador, e sempre há risco de rejeição. Com as células-tronco de dentes de leite, esse risco é muito menor”, diz Bábyla.

Com a nova tecnologia, não será necessário recorrer a doadores de córnea nem o paciente estará exposto à rejeição do órgão. Além disso, não precisará regular o tratamento com o uso de imunossupressores. “As células-tronco de polpas de dentes de leite possuem alto potencial de diferenciação, semelhantes às embrionárias, e não provocam rejeição”, atesta a biomédica.

“Cobaia” humana

No começo da pesquisa, os coelhos foram submetidos a danos induzidos na órbita ocular com lesões corneanas, mas, em seguida — de duas a três semanas após o experimento —, voltaram a enxergar. Quando sofreram as lesões, eles procuravam ficar em apenas um dos lados das gaiolas, como se buscassem a luz. Em seguida, com o êxito do implante, eles passaram a se locomover aleatoriamente pelo ambiente.

Bábyla fala sobre o caso de uma mulher, que se submeteu a uma reconstrução de córnea com células-tronco de dentes de leite: A paciente está reagindo bem, recuperou a visão parcialmente, mas ainda não se pode falar em resultados clínicos positivos definitivos, ressaltam médicos da Unifesp que fizeram a cirurgia de recuperação da córnea na primeira ‘cobaia’, em setembro do ano passado. “Temos de esperar alguns meses”, avalia Pereira Gomes, que fez a reconstrução de córnea com célula-tronco. “Ela está sendo devidamente acompanhada para sabermos avaliar melhor os resultados do procedimento”, acrescenta.

Embora otimista com os resultados iniciais, o médico comenta que o assunto exige o máximo de cautela para não provocar esperanças vãs em outros pacientes. “O projeto é real, tem tudo para dar certo, mas não sabemos muita coisa, por exemplo, sobre a durabilidade do processo”, pondera. Provavelmente, pensa Bábyla, antes de agosto deste ano os resultados clínicos tão esperados pela equipe do Butantan e da Unifesp serão divulgados. Outros 25 pacientes que foram selecionados em agosto do ano passado já se submeteram ao trabalho de reconstrução de córnea.

Fonte: Correio Braziliense
Data de Veiculação: 12/03/2011